Ibraimo Mbaruco e Arlindo Chissale continuam desaparecidos; autoridades são cobradas

Pemba – Em antecipação ao Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados, a 30 de agosto, o Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) e o capítulo moçambicano do MISA apelaram às autoridades de Moçambique para esclarecer o paradeiro de dois jornalistas, Ibraimo Abú Mbaruco e Arlindo Chissale, desaparecidos em circunstâncias similares na região de conflito de Cabo Delgado.

Mbaruco, repórter e apresentador da Rádio Comunitária de Palma, foi visto pela última vez em 7 de abril de 2020, por volta das 18h, ao sair do seu escritório. Pouco depois, enviou uma mensagem a um colega mencionando estar “cercado por soldados”. Já Chissale, editor do Pinnacle News, desapareceu em 7 de janeiro de 2025 na aldeia de Silva Macua, quando oito homens, alguns usando uniformes das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, o obrigaram a sair de um miniautocarro público. Desde então, não há notícias sobre o seu paradeiro.

Segundo Angela Quintal, diretora regional do CPJ para África, as famílias estão profundamente afetadas pela ausência dos jornalistas e pela aparente incapacidade do governo de conduzir investigações completas. “A suspeita de envolvimento militar sugere que Moçambique não é um país seguro para jornalistas”, afirmou. Quintal acrescentou que o governo do presidente Daniel Chapo deve dar respostas sobre Mbaruco e Chissale, garantindo segurança e liberdade aos profissionais da comunicação.

Ernesto Nhanale, diretor executivo do MISA Moçambique, destacou que o arquivamento de casos sem investigação técnica e independente revela a falta de empenho do Estado em proteger jornalistas. “Após oito meses, o silêncio sobre Chissale é uma demonstração clara da indiferença das autoridades”, afirmou.

Nos dias seguintes ao desaparecimento de Mbaruco, familiares e colegas tentaram contactá-lo por mensagens e chamadas, mas o telemóvel estava desligado. Segundo o MISA, o aparelho voltou a ser ligado em 8 de junho de 2020, o que levou a organização a solicitar às autoridades o uso de geolocalização para rastrear o jornalista. Uma fonte policial anónima indicou que Mbaruco teria sido levado a Mueda, cerca de 300 km de Palma, para interrogatório.

Antes de desaparecer, Chissale tinha sido alertado de que estava em risco e incluído numa “lista de alvos a eliminar”. Nos meses anteriores, ele publicou comentários políticos sobre as eleições de outubro de 2024, apoiando a oposição e acusando a Frelimo de fraude. O CPJ e o MISA documentaram várias violações à liberdade de imprensa durante o período pós-eleitoral.

Chissale já havia sofrido ameaças e assédio por conta do seu trabalho. Em novembro de 2022, foi detido por seis dias sob acusação inicial de terrorismo, sendo depois acusado de trabalhar sem acreditação jornalística.

Desde 2017, Cabo Delgado enfrenta uma insurgência ligada ao Estado Islâmico, e jornalistas têm sido alvos de assédio e prisões enquanto cobrem a região. Em fevereiro, durante visita a Pemba, o presidente Chapo pediu que os jornalistas continuassem a trabalhar com excelência. No entanto, numa carta enviada em março, o CPJ alertou que seria impossível cumprir a diretiva enquanto persistisse o clima de medo e não houvesse responsabilização dos responsáveis pelos desaparecimentos.

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