O Presidente da República, Daniel Chapo, voltou a manifestar a sua disponibilidade para encetar um processo de diálogo com os líderes dos grupos armados que, há oito anos, espalham violência e instabilidade em Cabo Delgado. A posição foi reiterada numa entrevista concedida à cadeia televisiva Al Jazeera, do Qatar.
Chapo sublinhou que o Governo está a seguir uma estratégia de duas frentes para lidar com o terrorismo: uma resposta militar, em coordenação com países da SADC, Tanzânia e Ruanda, e uma abordagem diplomática, que pode incluir conversações com as lideranças insurgentes.
“Vamos continuar a combater no terreno, em defesa da pátria e da nossa soberania, mas também não podemos descartar a via do diálogo, porque a experiência mostra que todo conflito, mais cedo ou mais tarde, acaba numa mesa de negociações”, afirmou o Chefe de Estado.
Recordando momentos históricos do país, Chapo destacou que tanto a luta de libertação nacional como a guerra civil de 16 anos terminaram com acordos de paz firmados após negociações. “Podemos usar essa mesma experiência, procurando identificar as lideranças, as motivações e a estrutura dos insurgentes, para avaliar se essa via pode abrir espaço para a paz definitiva”, acrescentou.
O Presidente frisou que os ataques não afetam toda a província, mas concentram-se sobretudo em alguns distritos do norte de Cabo Delgado, ricos em recursos naturais, como o gás. Para Chapo, o objetivo central é restabelecer a paz e segurança, condição essencial para o desenvolvimento da província e de Moçambique no seu todo.
Esta não é a primeira vez que o estadista moçambicano menciona publicamente a possibilidade de negociações com os insurgentes. Em ocasiões anteriores, chegou a comparar a situação com a abordagem seguida em relação à Renamo, que passou de ser vista como um grupo de “bandidos armados” para uma força com liderança e motivações reconhecidas, o que abriu caminho ao diálogo político.
Apesar das declarações, até ao momento não foram divulgados detalhes sobre avanços concretos ou eventuais contactos já estabelecidos com representantes dos grupos armados.
