O antigo Presidente da República, Armando Guebuza, afirmou que o verdadeiro desenvolvimento deve ser medido pelos benefícios reais que traz aos cidadãos moçambicanos, e não apenas por indicadores abstratos. O ex-chefe de Estado criticou o exercício do poder de forma egoísta, sem impacto positivo na vida do povo.
“Queremos ver o nosso país desenvolvido, mas não de forma abstrata. O desenvolvimento deve refletir-se em cidadãos que também estão a evoluir”, disse Guebuza.
As declarações foram feitas na sexta-feira (03), durante uma palestra alusiva ao Dia da Paz, celebrado a 4 de Outubro, sob o tema “Por uma juventude patriota e livre de vícios”, realizada na Escola Secundária do Albasine, em Maputo.
Guebuza sublinhou que o crescimento económico e social de um país só é verdadeiro quando resulta em melhorias concretas na vida da população.
“Quando os cidadãos se desenvolvem, ganham autoestima, transformam o mundo em que vivem e superam as dificuldades. Só assim podemos dizer que Moçambique é realmente um país desenvolvido”, afirmou.
O antigo Presidente recordou ainda os desafios enfrentados logo após a independência, destacando a escassez de quadros formados como uma das maiores dificuldades da época.
“Em 1975 e 1976, não encontrávamos mil pessoas com a quarta classe para entrarem na escola básica da polícia. Tivemos que adiar o curso”, exemplificou.
Guebuza mostrou-se surpreso com os que afirmam que “naquele tempo era melhor”, questionando o sentido dessa visão.
“Se era melhor, então por que lutámos contra o colonialismo?”, indagou.
Durante o seu discurso, criticou a busca pelo poder sem propósito social, defendendo que a liderança deve estar sempre ao serviço do povo.
“O objetivo, após a independência, era colocar os moçambicanos no poder — não pelo poder em si, mas para melhorar a vida do nosso povo”, frisou.
O ex-Presidente também apelou à juventude para identificar os seus próprios desafios e enfrentá-los com coragem e criatividade.
“Nós lutámos contra o colonialismo, que era uma máquina de repressão pesada. Vocês hoje não têm esse inimigo, mas têm outros problemas. Definam, portanto, os vossos desafios”, aconselhou.
Recurso e conhecimento técnico
Guebuza defendeu ainda a necessidade de Moçambique fortalecer a sua capacidade técnica e científica para gerir os seus próprios recursos naturais, lamentando a dependência de estrangeiros para essa exploração.
“O gás já existia antes de eu nascer, mas os nossos antepassados nem sabiam. Ainda hoje dependemos de estrangeiros para o explorar. Estudem Química, estudem Hidrocarbonetos, mas não saiam do país”, apelou aos estudantes.
Por fim, exortou à promoção do diálogo entre gerações e à rejeição de mentalidades coloniais.
“Devemos cultivar uma mentalidade verdadeiramente independente, fiel ao espírito da nossa libertação nacional”, concluiu Armando Guebuza.