Maputo – A Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), empresa estatal de aviação, encontra-se mergulhada num grave escândalo financeiro após a suspensão do diretor financeiro e de outros quatro funcionários de topo. Os colaboradores são acusados de desviar um montante estimado em 650 mil euros através de um esquema sofisticado envolvendo a criação e uso de notas fiscais fraudulentas.
Uma auditoria independente revelou que a fraude foi arquitetada através de uma empresa de fachada. Esta entidade fictícia emitia faturas por serviços de tradução inexistentes ou com valores inflacionados, canalizando os fundos indevidamente para funcionários dos setores jurídico e financeiro da transportadora aérea nacional.
Governo Apoia Investigação, Analistas Alertam para Fraqueza Institucional
A Presidência da República de Moçambique e o Governo manifestaram total apoio às investigações em curso. O executivo, sob a liderança do Presidente Daniel Chapo, reiterou o seu compromisso com a moralização das empresas públicas e prometeu medidas rigorosas para responsabilizar os culpados.
No entanto, o caso reacendeu um debate nacional sobre a corrupção estrutural. Em declarações à DW África, o analista político Ernesto Júnior afirmou que o desvio na LAM “não é surpreendente”, classificando a corrupção no país como “institucionalizada” devido à “fragilidade das instituições e à falta de responsabilização dos envolvidos”.
Segundo Júnior, a ligação de “indivíduos ou elites” ao caso da LAM evidencia uma ausência de prestação de contas que mina a confiança pública. Ele defende que o maior desafio reside no fortalecimento urgente das instituições de justiça, em particular a Procuradoria-Geral da República (PGR), detentora do monopólio da acusação criminal.
“Há uma grande distância entre o discurso formal e a prática real. Queremos ver resultados concretos, com a responsabilização criminal dos envolvidos no desvio de recursos. Só assim será possível prevenir novos casos,” declarou o analista.
Ernesto Júnior concluiu sublinhando a preocupação da sociedade civil: apesar de o Presidente Chapo ter reconhecido a corrupção e prometido medidas de reestruturação, a ausência de detenções preventivas dos principais suspeitos sugere que, embora a “retórica seja uma coisa, a prática é outra”, sendo esta última a que precisa, de facto, concretizar-se.
