Maputo – A rápida deslocação do ministro da Defesa, Cristóvão Chume, a Kigali, no Ruanda, levantou interrogações dentro e fora dos círculos políticos e militares em Moçambique. O governante partiu de emergência, na noite de 25 de agosto, a partir de Pemba, e regressou ainda na madrugada seguinte. Oficialmente, a agenda era apresentada como uma visita de três dias, mas, na prática, tratou-se de uma viagem curta, reservada e marcada pelo silêncio.
Segundo informações apuradas, o encontro teve como principal objetivo assegurar a continuidade da presença das tropas ruandesas em Cabo Delgado, no âmbito das operações conjuntas contra os insurgentes. Contudo, detalhes das conversações realizadas em Kigali não foram revelados, o que gerou desconforto em setores militares moçambicanos pelo fato de decisões estratégicas terem sido tomadas fora do país.
Uma fonte das Forças de Defesa e Segurança, sob anonimato, lembrou que os acordos com Kigali remontam ainda à presidência de Filipe Nyusi, sublinhando o aumento da tensão interna quanto à gestão deste dossiê.
No discurso oficial, Cristóvão Chume defendeu a importância de manter a cooperação com o Ruanda, elogiando a coragem das tropas ruandesas, que contribuíram para recuperar áreas ocupadas por insurgentes e possibilitar o regresso de milhares de deslocados. O ministro acrescentou que a ameaça terrorista continua latente e exige coordenação regional, destacando a necessidade de reforçar a formação militar, a partilha de informações e a cooperação operacional.
As tropas ruandesas permanecem em Cabo Delgado ao abrigo de acordos bilaterais, sustentados por um financiamento europeu de cerca de 40 milhões de dólares. Durante a passagem por Kigali, Chume prestou homenagem a soldados mortos nas operações conjuntas, garantindo que os seus feitos serão lembrados.
Fontes ligadas ao setor militar indicam ainda que a viagem serviu de preparação para a futura visita de Estado do Presidente Daniel Chapo ao Ruanda. Ainda assim, a deslocação súbita de Chume reforçou a perceção de que muitas das decisões estratégicas sobre a guerra em Cabo Delgado continuam a ser definidas mais em Kigali do que em Maputo.
Enquanto isso, os ataques insurgentes persistem. Em Quissanga, na semana passada, foi registada mais uma execução, evidenciando as fragilidades operacionais das forças nacionais e a urgência de uma resposta mais eficaz no terreno.
